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quinta-feira, 29 de novembro de 2012


O Blog do Diário de um Batom mudou de imagem e de "casa"
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sorriu de volta

Assim que terminou de ler a noticia sobre prisão dele, correu para o quarto e apesar de estar sozinha, trancou-se para não ser incomodada.
Sentou-se na cama entre as 3 paredes que um dia foram fortes e resistentes e que tanto a protegeram. O buraco no chão aos poucos ia fechando, taco a taco de madeira de cerejeira rosada, mas a cama continuava suspensa pela sua força. Já não tinha medo do vazio sabia que as suas inseguranças eram infieis mas que não a voltavam a trair.
Os lençóis de linho ainda húmidos das suas lágrimas e sonhos, suavizavam a sua angustia enquanto arranhavam a sua pele.
Da gaveta da cómoda tirou uma caixinha pequena e ornamentada pelas marcas digitais das suas mãos de todas as vezes que a esteve para a abrir, mas agora tinha chegado o momento de mergulhar na sua dor e encarar o seu segredo.
Devagarinho rodou a chave e o barulho do tempo arrepiou-a, como um suspiro levantou a tampa e viu o seu coração inteiro vermelho e chorou. Depois de tanto tempo ainda estava vivo e com vontade, em cada batimento lembrou-se de tantas coisas que uma pontada fria no peito magoou-a. Levou a mão ao peito mas não tinha nada.
Confortou-o nas suas mãos pequeninas e levou-o à boca e com os seus doces lábios sussurrou "estou aqui". O coração bateu com mais força e dele saíram as bailarinas de cristal e porcelana a dançar ao som de tudo. A felicidade iluminava o seu pequeno quarto e a luz do sol da manhã fazia-o maior e todas dançaram livres do medo entre notas de ouro e de pó.
Quando fez-se noite olhou pela janela cansada mas realizada e viu a lua armada em goma a entreter as crianças gulosas das suas memórias. Voltou-se e tudo estava no sitio, a gaveta fechada, as suas marcas nos lençóis, as bailarinas a dançar, o pó a voar, as paredes, o buraco a fechar e o coração a bater. Agora já podia respirar e voltar a sair.
Abriu a porta, sorriu e o tempo sorriu de volta.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Preciso de um titulo...


Depois de um jantar num restaurante pitoresco, sentaram-se na sala dele, com um afastamento conveniente.
Enquanto falavam e riam de tudo e de nada, ele começou a dizer-lhe o quanto a adorava. Interrompeu-a sem ter medo de a assustar. Hoje era o dia por que tanto esperara. A menina crescera e já tinha idade para entendê-lo.
Provou, em todos os segundos e palavras, que a conhecia ao pormenor. Que, ao longo dos anos, sentiu todas as suas dores, saboreou as suas lágrimas e tremeu com os seus sorrisos e, apesar da distância e do silêncio que os separava, nunca deixou de sofrer por não estar com ela.
Conhecia de cor as suas sardas e o cheiro dos seus cabelos e que o dia em que passasse os dedos por cada madeixa seria perfeito.
Olhou-a nos olhos, disse-lhe que a amava tanto e que o carinho que tinha por ela era imortal. Queria-a para sempre. Pediu-lhe desculpa por ser egoísta por querê-la só para ele. Chegou a pensar guardá-la numa gaiola de ouro para que cantasse só para si, mas sabia que, ao cortar-lhe as asas, o brilho que o tinha deixado sem fôlego durante tantos anos apagar-se-ia e ela acabaria por morrer.
Sentada do outro lado da salam as palavras e as emoções chegavam-lhe com força. Não estava preparada para se desviar e caíram-lhe todas no seu pequeno colo. Quando se conseguiu mexer, juntou-as e apertou-as com tanta força que chegou a ferir algumas sem qualquer intenção ou maldade. Tinha chegado o momento por que toda a vida esperara: alguém que a amasse incondicionalmente. De ter um homem que gostasse de tudo o que fizesse, que quisesse guardá-la e tê-la para sempre, com todo o amor e carinho.
Alguém que a visse como mulher, mas sentisse a sua inocência como um tesouro. Quis tocar-lhe mas não chegava. Era longe e cedo de mais e os seus braços ainda mais curtos. Os lábios rosados tentaram abrir-se, mas não conseguiu dizer nada. Os olhos brilhantes seguiam atentamente os grandes gestos dele e tentava dizer "quero-te".
Levantou-se, ajeitou a saia e, deixando cair algumas palavras de medo no chão, correu pelas escadas de madeira, saindo para rua, onde se perdeu por entre as pedras da rua direita, sem nunca olhar para trás.
O cheiro e a vontade por ela permaneceram na sala por todos anos que se seguiram, enquanto as palavras varridas para debaixo do sofá continuavam a ser as mesmas que lhe dissera e que apenas esperavam ser encontradas por entre o cotão acumulado.